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anuário
2018
das Sociedades de Advogados
A inteligência artificial poderá substituir
os advogados? Os especialistas em novas
tecnologias não acreditam, mas admitem
que haverá uma mudança de paradigma no
modo como aqueles profissionais trabalham
e na forma como oferecem os seus serviços
aos clientes.
Diz-se que os “robôs” estão a chegar aos escri-
tórios de advogados. Na prática, do que esta-
mos a falar? De uma profissão em risco? Ou de
uma complementaridade para quem trabalha
no sector? Uma coisa é certa, a inteligência
artificial está a desencadear uma mudança de
paradigma na forma como os advogados hoje
exercem a sua actividade e no modo como vão
oferecer os seus serviços aos clientes. Contudo,
entre os especialistas nesta área existe uma
certeza: emoções humanas como a empatia,
capacidade de improvisação e bom senso são
exemplos de características que, nos tempos
mais próximos, continuarão fora do alcance da
inteligência artificial, o que torna o trabalho do
advogado absolutamente essencial.
Rui Vaz, director de tecnologias de informação
numa sociedade de advogados e dirigente da
associação IT4Legal, sustenta que, quando
falamos da entrada dos robôs nas sociedades
de advogados reportamo-nos, essencialmen-
te, “aos sistemas informáticos que permitem
executar tarefas muito complexas com grande
precisão e rapidez através da análise e pro-
cessamento de informação”. Estas podem tra-
duzir-se, nomeadamente, no apoio à tomada
de decisão, em encontrar padrões relevantes
ao negócio, em informação relevante numa
determinada área ou no processo de análise
de risco.
Ricardo Negrão, presidente da IT4Legal, su-
blinha que os “robôs” estão a ser estudados
pelas sociedades de advogados para realiza-
rem tarefas que, pela sua natureza, adquirem
mais eficiência e propiciam maior valor para
o cliente final se forem feitas com recurso à
inteligência artificial.
De que é que falamos? Ricardo Negrão dá-nos
a resposta: “Estamos a falar de tarefas como a
pesquisa de evidências em grandes volumes
de informação não estruturada (documentos);
da tradução e transcrição de documentos; da
interacção com o sistema Citius, para possibi-
litar a integração do mesmo com os sistemas
de informação da sociedade de advogados;
ou, se quisermos ir mais longe, colocar robôs
a criar documentos-tipo, como contratos de
arrendamento ou de divórcio”.
Mais do que robótica, o que está em causa são
“soluções para a automatização de processos
e de algumas rotinas. Na maior parte dos
casos, tratar-se-á de aplicações de software”,
sustenta Carina Branco, fundadora e “senior
tech & IT counsel” da Techlawyers. Mas tam-
bém é verdade, insiste a nossa interlocutora,
que “existirão alguns casos de soluções as-
sentes em inteligência artificial que poderão
ter componentes de ‘machine learning’ e que
essencialmente poderão vir a gerir grandes
volumes de dados, suportar a profissão na
gestão crítica e selectiva de informação, ou na
análise preditiva do sucesso de um caso”.
SUBSTITUTOS DOS ADVOGADOS?
E poderá a inteligência artificial substituir
advogados? Não há sempre a necessidade
de contar com o apoio de um profissional do
sector, nomeadamente para criar uma matriz
para o trabalho “repetitivo” que se seguirá? Rui
Vaz acredita que os advogados não serão de
todo substituídos. “A inteligência artificial, na
forma como a conhecemos hoje em dia, ape-
nas vai proporcionar alterações de paradigma
no modo como os advogados trabalham e na
forma como oferecem os seus serviços aos
clientes”, considera.
Sublinha ainda que“emoções como a empatia,
capacidade de improvisação e bom senso são
exemplos de características que não é possível
serem executadas” por “robôs”, pelo que “a ha-
bilidade de apresentar novas estratégias aos
clientes será algo que caberá somente aos
...
OS ROBÔS JÁ ESTÃO ATRABALHAR
NOS ESCRITÓRIOS DOS ADVOGADOS
Inteligência Artificial
“TREINAR UM ROBÔ PARA
REALIZAR A ELABORAÇÃO DE
DOCUMENTOS, OU MANTER A
CONVERSA COM UM CLIENTE
PODE LEVAR ANOS. O QUE
SIGNIFICA INVESTIR MUITO
DURANTE VÁRIOS ANOS PARA
SÓ MUITO MAIS TARDE OBTER
O RETORNO. NÃO ESTÁ NA
CULTURA PORTUGUESA A
REALIZAÇÃO DE INVESTIMEN-
TOS A LONGO PRAZO.”
Ricardo Negrão, Presidente do
IT4Legal