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DE OLHOS POSTOS NO FUTURO
A capacidade das sociedades de advogados se adaptarem às exigências jurídicas dos diferentes ciclos da economia
ajuda a explicar quer a resiliência, quer a capacidade para crescer que o sector tem demonstrado. É, felizmente, nesta
segunda fase que o país se encontra. O ano tem tudo para ser promissor para a advocacia.
O turismo e o imobiliário, que têm sido motores do crescimento, prometem continuar a gerar negócio para as so-
ciedades de advogados. Mas não só. O maior dinamismo da economia, ajudado pela melhoria da imagem externa,
continuará a trazer mais investimento estrangeiro. Por outro lado, o menor aperto financeiro será indutor de uma
maior actividade de consolidação nas empresas.
A advocacia desempenha aqui um papel fundamental. A disponibilidade de apoio jurídico profissional e competente é
essencial para dar segurança aos agentes económicos. É, entre outros, um factor decisivo na competitividade do país.
Nesse papel, o sector enfrenta importantes desafios. A transformação digital impõe alterações profundas nos modelos
de negócio, que tanto são uma ameaça como uma oportunidade. As firmas que forem capazes de tirar partido das
novas tecnologias, como a inteligência artificial, conseguirão responder de forma mais eficaz às necessidades dos
clientes e, por essa via, tornar-se mais competitivas. A actual conjuntura positiva é o momento ideal para preparar a
sustentabilidade futura.
A própria digitalização traz consigo todo um novo acervo de regulação, em cuja definição e adopção as sociedades de
advogados terão de ser protagonistas. O país conta com elas não só como peça-chave do sistema judicial na garantia
da liberdade e direitos dos cidadãos, mas também como indutoras das melhores práticas junto dos clientes.
Os últimos anos acrescentaram ao currículo das firmas de advocacia provas de uma notável capacidade de adaptação.
A forma como souberam procurar no estrangeiro o negócio que faltou em Portugal é disso uma demonstração. O que
acalenta a expectativa de que as sociedades saberão estar à altura dos desafios que se adivinham.
Tempo de Recursos
Os últimos anos foram longos e difíceis. Marcados por uma permanente instabilidade e incerteza, com a crise sempre à
solta parecendo não ter fim à vista. Falta de confiança, cortes, dificuldades e desânimo pautavam o nosso quotidiano e
teimavam em persistir.
Confortava-nos o sol, a segurança, a capacidade de superação e simpatia da “nossa gente”, as ondas gigantes que dese-
jámos que se replicassem em variedade e em escala e a permanente esperança de novos tempos.
Esta foi também a realidade retratada nos últimos editorias do In-Lex, em que constatámos a especial capacidade de
resiliência do sector das sociedades de advogados a estas adversidades, sempre ao lado dos seus clientes. Apesar da
fama de pessimistas, acreditámos sempre na viragem. O nosso Fado não poderia continuar a ser de crise!
Trabalhámos, esforçámo-nos para mudar e reestruturar, repensámos negócios e
modus operandi
, ajustámo-nos, saímos
da nossa zona de conforto, internacionalizámos, inovámos, arriscámos. E… eis que o disco virou e já não toca o mesmo!
De patinho feio a melhor aluno na Europa, uma economia a crescer, campeões europeus de futebol, vencedores do
festival da Eurovisão, melhor destino turístico do mundo,
Web Summit
, Madonna, emprego, confiança…
Os tempos agora são outros… Portugal está na moda… e recomenda-se.
E é também fácil constatar a importância que as sociedades de advogados – tão bem representadas nesta edição – ti-
veram nesta mudança, funcionando desde logo como barómetros da economia, antecipando-se e preparando-se para
aquelas que viriam a ser as necessidades e desafios dos seus clientes, em especial do tecido empresarial nacional. Res-
ponderam com eficácia, apostando e investindo sempre no seu maior recurso: o capital humano. Único e diferenciador.
É este o exemplo que deve ser seguido por todos nós, o Portugal. Se queremos fazer perdurar este estado de graça te-
mos que continuar a trabalhar, a arriscar e a apostar naqueles que são os nossos recursos únicos. Impera o planeamento
estratégico e a visão. Basta de remendos, é preciso soluções de compromisso e longo prazo. Que das cinzas do pinhal
de Leiria se retirem conclusões. Temos de saber promover, mas protegendo e preservando, os nossos melhores recursos,
com cautela e sem euforias, para que não se volte a perder o cheiro da seiva do pinheiro e das camarinhas.
editorial
ANDRÉ VERÍSSIMO,
Director do Jornal de Negócios
joão moura,
Director da In-Lex