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editorial
Estabilidade também é posto
“Advogado castrado, não!”. Quando Marinho Pinto adaptou o poema de Ary dos Santos no discurso de abertura do ano
judicial, sabia que faria a sala estremecer – e fez. Assim encerrava o seu discurso nesta cerimónia, antes de terminar o
último dos seus mandatos como bastonário. Mandatos que fizeram estremecer a advocacia, a justiça – o país.
A eleição do próximo bastonário é apenas um dos factos que marca o ano de 2013, numa Justiça que, afinal, está
sempre em obras, tantas as reformas que lhe aplicam – e que são metade do que lhe encomendam. E mais a crise.
A crise económica, financeira, política, social, e todas as coisas que esta crise é, varre o país de falências, de desem-
prego, de desagregação, de destruição. E as sociedades de advogados? Estão em crise, claro. Mas estão também a
trabalhar nela.
Só Urano, o deus grego, não ficou conhecido por outra coisa que não fosse ter sido castrado pelo filho, que depois
jogou ao mar os despojos ceifados. Os advogados passam pelas agruras dos seus clientes, perdem receitas, perdem
margens, perdem cobranças, reduzem custos – e só não desempregam porque em advocacia, formal e conveniente-
mente, nem sequer empregam. Mas mesmo que haja cisões e tombos, as sociedades são também lestas em adaptar-se
às necessidades dos seus clientes e aos ritmos da economia: rapidamente montaram as suas estruturas para a reestru-
turação de empresas, para as insolvências, para acompanhar os clientes na sua internacionalização.
Este Anuário é um espelho dessa constância. Há oito anos que damos a conhecer sociedades de advogados entre as
mais profissionais do país, já passámos pela prosperidade e pela recessão e é impressionante confirmar a estabilidade
das sociedades aqui apresentadas. E, sobretudo, valorizar que nada disso é por acaso. Nem castração.
Tempos de Criatividade
Fazer mais e melhor, com menos. Os tempos assim nos exigem. A era da abundância já passou à história ou, pelo
menos, tem os dias contados. Muito do que ontem considerávamos como essencial e adquirido, passou a supérfluo.
Hoje estamos mais selectivos e exigentes, bem como conscientes da necessidade de nos reinventarmos, tanto na
esfera pessoal, como nos negócios.
É preciso gerar mais valor com menos recursos, saber inovar na escassez. Tal como em tempos passados, vivemos
“tempos de açorda”. Já houve o tempo em que a açorda, entre outros pratos deliciosos, nos ajudou a sobreviver. Do pão
duro, que ia para o lixo, cozinhou-se um prato simples, mas que “matava o bicho”. Rapidamente se percebeu que se lhe
adicionássemos coentros frescos e se a colocássemos numa bonita travessa, a açorda ganhava mais valor.
Hoje, a palavra de ordem volta a ser a mesma: Criatividade. Este valioso recurso, inesgotável e acessível a todas as
organizações, é uma ferramenta poderosa quando bem explorada.
O desafio é enorme, mas à altura das sociedades de advogados presentes nesta oitava edição do anuário In-Lex, que têm
revelado uma grande capacidade de adaptação às actuais adversidades, sabendo aproveitar as oportunidades emergen-
tes e provando aos seus clientes que estão preparados para os acompanhar nos seus projectos mais ambiciosos.
Para encontrarmos mais exemplos de “açordas”, precisamos de esforço, dedicação, criatividade e sentido de união,
valores esses que acredito que se espelham nesta edição do In-Lex, com a força do sector mais viva do que nunca.
PEDRO SANTOS GUERREIRO
Director do Jornal de Negócios
joão moura
Director da In-Lex