"Há muito tempo (enfim, não assim há tanto tempo), havia um grande clube de futebol português que não conseguia voltar a ganhar campeonatos. Por maldade, os adeptos dos clubes rivais diziam, lá pelo Natal: “Prò ano é que é!”. Na economia portuguesa conhecemos bem este síndroma – mas já perdemos a inocência: não é prò ano, é este. É sempre este ano que batemos no fundo. Ano após ano.
A capacidade de resistência dos agentes económicos portugueses tem sito notável. Depois de uma década de crescimento medíocre, e entrando noutra década com o mesmo pé-coxinho, as empresas continuam a inventar formas de saltar obstáculos, de ter sucesso, de sobreviver. Sobretudo as empresas exportadoras, que se tornaram porta-estandarte da própria política económica. Nos jornais, muitas vezes perguntamos a quem as gere o que mais precisariam para singrar. A resposta está a ser cada vez mais coincidente. Despedimento individual? Formação profissional? Apoios financeiros? Não: Justiça. Tão simples quanto isso: Justiça. Um sistema que seja eficaz, que decida, que o faça em tempo útil, que seja previsível, em que possam confiar. Só se cresce e cria emprego investindo; só se investe existindo confiança – e previsibilidade.
As reformas da Justiça são um Rubicão para outros editoriais. Mas a necessidade “económica” é para este. Porque o “progresso” – essa palavra datada – tanto exige desembargos como viola, nessa fúria, regras essenciais à sociedade – ao Estado de Direito.”…Pedro Santos Guerreiro - Director do Jornal de Negócios, In Anuário 2011
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