12
        
        
          anuário
        
        
          2019
        
        
          das Sociedades de Advogados
        
        
          se pode discutir é se é preciso que a admissão
        
        
          a uma profissão regulada tenha um crivo. A
        
        
          advocacia é uma profissão regulada, com re-
        
        
          gras para a entrada e para a permanência. Um
        
        
          candidato a advogado que tenha cometido
        
        
          um crime vai ter um processo de averiguação
        
        
          de idoneidade quando se candidatar a estagi-
        
        
          ário”, explica.
        
        
          Que tipo de crivo poderia ser esse? “A ideia
        
        
          seria contar com uma formação livre. Cada um
        
        
          formar-se-ia onde quisesse, ia fazer as pós-gra-
        
        
          duações que quisesse e depois haveria um exa-
        
        
          me nacional, de Estado, com questões jurídicas.
        
        
          A função da Ordem dos Advogados seria a de
        
        
          ajudar na formação naquilo que diz respeito
        
        
          às questões profissionais, como a deontolo-
        
        
          gia, prevenção de branqueamento de capitais,
        
        
          a gestão de clientes, a oratória, os métodos
        
        
          de trabalho, eventualmente uma língua es-
        
        
          trangeira. Seria uma alternativa ao sistema de
        
        
          estágio que temos e que replica muito o mo-
        
        
          delo de ensino universitário”, conclui Ana Rita
        
        
          Duarte de Campos.
        
        
          
        
        
          
        
        
          Há ou não excesso de cursos de Direito em
        
        
          Portugal? Há quem diga que sim, mas também
        
        
          quem tenha uma opinião oposta. Mas mais do
        
        
          que uma ou outra realidade, aquilo que está
        
        
          em causa quando se fala no acesso dos jovens
        
        
          formados em Direito no acesso à profissão de
        
        
          advogado é perceber se o estágio que permi-
        
        
          te, uma vez finalizado, a inscrição na Ordem
        
        
          dos Advogados deve continuar como está.
        
        
          Manuel Ximenez, presidente da Associação
        
        
          Académica da Faculdade de Direito da Uni-
        
        
          versidade Católica de Lisboa, sublinha que em
        
        
          Portugal existem 15 cursos de Direito, mas isto
        
        
          pouco significa se não estudarmos o número
        
        
          de vagas que os mesmos oferecem. Em 2018
        
        
          foram abertas de mais de 2500 vagas em todo
        
        
          o país. Até por isso, o dirigente da associação
        
        
          académica da Católica entende que aquilo
        
        
          que pode existir é excesso de licenciados por
        
        
          ano. “Creio que excesso de cursos não há, até
        
        
          porque a existência de vários cursos é de certa
        
        
          forma benéfica, faz com que as universidades
        
        
          se tornem mais competitivas entre si e ofere-
        
        
          çam o melhor ensino possível”, enfatiza.
        
        
          Já quanto ao eventual excesso de licenciados
        
        
          por ano, Manuel Ximenez entende que o mes-
        
        
          mo será resolvido pela qualidade dos mesmos.
        
        
          “Um aluno de direito de uma boa universidade
        
        
          terá lugar no mercado de trabalho. É ainda
        
        
          de se considerar que direito é um curso de
        
        
          “banda-larga” oferecendo mais do que a clás-
        
        
          sica saída profissional da advocacia, pelo que
        
        
          há muitas opções para um jurista nas áreas
        
        
          jurídicas e não só”, frisa.
        
        
          O presidente da Associação dos Jovens
        
        
          Advogados de Portugal (ANJAP), Filipe Bis-
        
        
          mark, entende que o curso de Direito é um
        
        
          dos que mais saídas profissionais oferece.
        
        
          “Falamos de advogados, juízes, magistrados,
        
        
          conservadores, notários, juristas, mesmo
        
        
          profissões menos “jurídicas” como políticos,
        
        
          jornalistas, consultores, pelo que considero
        
        
          que não existem cursos a mais em Portugal”.
        
        
          Aquilo que acredita que existe, e que se nota
        
        
          no mercado de trabalho, “é que há cursos de
        
        
          Direito de certas Universidades que são muito
        
        
          conceituados e outros que têm uma reputa-
        
        
          ção menos positiva”.
        
        
          
            OUTRO PARADIGMA DE ESTÁGIO?
          
        
        
          Já Ana Rita Duarte de Campos, que lidera o Ins-
        
        
          tituto de Apoio aos Jovens Advogados (IAJA),
        
        
          considera que em Portugal há muitos cursos
        
        
          de Direito, assim como diz que “há demasia-
        
        
          dos licenciados em Direito”. Que razões levam
        
        
          a que isso suceda? “É um curso de papel e lá-
        
        
          pis. É um curso barato”, responde, mas adianta
        
        
          que não é isso que legitima as dificuldades de
        
        
          acesso à profissão.
        
        
          “Qualquer pessoa que complete um curso
        
        
          de Direito pode inscrever-se como advogado
        
        
          estagiário, e, caso consiga terminar o estágio,
        
        
          torna-se advogado, pelo que acredito que o
        
        
          acesso à profissão não é difícil. Questão dife-
        
        
          rente é saber se os moldes em que é feito o
        
        
          estágio ainda fazem sentido numa sociedade
        
        
          como a nossa”, afirma Filipe Bismark.
        
        
          A presidente do IAJA concorda, e aponta a ne-
        
        
          cessidade de um novo paradigma. “Aquilo que
        
        
          
            HÁ OU NÃO EXCESSO DE
          
        
        
          
            CURSOS DE DIREITO?
          
        
        
          FUTURO DA ADVOCACIA