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          TEMPO VERBAL
        
        
          Com a presente edição do In-Lex, somamos 14 anos de conhecimento e de partilha de informação das sociedades de
        
        
          advogados em Portugal. Não sendo muito nem pouco, é um marco no panorama nacional, um caso único, que nos dá
        
        
          a credibilidade necessária para comentarmos e analisarmos o setor em qualquer tempo verbal: do pretérito perfeito,
        
        
          passando por vezes pelo imperfeito, ao presente e até mesmo no futuro. O In-Lex partilhou, partilha e vai continuar a
        
        
          partilhar informação precisa e objetiva do setor da advocacia organizado em regime societário, com o mesmo rigor e
        
        
          entusiasmo comque iniciou a sua primeira edição. E, efetivamente, esta edição, não é exceção! É mais uma prova da força
        
        
          do setor e da sua relevância enquanto
        
        
          player
        
        
          ativo da nossa economia e parceiro imprescindível do tecido empresarial
        
        
          – os seus principais clientes – que não prescindem dos seus serviços jurídicos em atividades estratégicas e operacionais.
        
        
          Nas últimas 13 edições, divulgámos o comportamento das sociedades de advogados em diferentes cenários econó-
        
        
          micos e políticos e com conjunturas externas instáveis e imprevisíveis: de governos mais à esquerda a governos mais
        
        
          à direita, de planos de intervenção a crescimento económico, de um mercado imobiliário devoluto a explosivo, de um
        
        
          Portugal adormecido a um país de referência no Turismo, virado para o mar e acolhedor de
        
        
          startups
        
        
          . E o que constatá-
        
        
          mos foi o crescimento deste setor, uma maior profissionalização das sociedades, o seu empenho e resiliência e a sua
        
        
          capacidade inventiva e de adaptação a diferentes realidades, com o intuito de dar uma resposta à altura dos desafios
        
        
          que os seus clientes enfrentaram. Sociedades com uma elasticidade difícil de explicar num cálculo de engenharia, mas
        
        
          de grande utilidade nas empresas.
        
        
          Na presente edição de 2019, a 14ª, divulgamos a informação de 135 sociedades de 18 localidades do país. Uma vez
        
        
          mais, as sociedades aderiram em força ao projeto, num ano em que a economia se comportou de forma positiva e
        
        
          que os resultados se refletiram também no volume e tipo de serviços jurídicos prestados. Contamos com um número
        
        
          superior de firmas com mais de cem advogados, uma barreira mítica do passado, um aumento do número médio de
        
        
          advogados – transversal a todos os escalões –, sociedades a disponibilizarem mais emprego a profissionais nas áreas
        
        
          de suporte, atentas ao investimento estrangeiro, ao investimento público, ao imobiliário e a temas de cibersegurança
        
        
          e proteção de dados e, principalmente, aos seus clientes – a razão do seu ser. Uma edição que é um barómetro do setor
        
        
          mas também da realidade económica e empresarial nacional.
        
        
          Os tempos vindouros podem ser mais ou menos desafiantes para a economia portuguesa e para o setor das socieda-
        
        
          des de advogados – com riscos vindos principalmente, mas não só, do contexto económico e político mundial –, mas
        
        
          os advogados portugueses têm conhecimento prático adquirido para enfrentar o futuro. Parafraseando Camus, não
        
        
          se pode criar experiência, é preciso passar por ela. Os advogados sabem-no bem! Os seus clientes também! E o In-lex
        
        
          divulgará, uma vez mais, essa realidade.
        
        
          Advocacia para um mundo em acelerada mudança
        
        
          Vivemos num tempo em que o tempo é cada vez mais veloz. A tecnologia induz mudanças a um ritmo vertiginoso, que
        
        
          as sociedades têm dificuldade em acompanhar. Isso é visível em todos os domínios da sociedade, da esfera mais pri-
        
        
          vada à pública. Está no frenesim com que surgem novos modelos de negócio e outros são arrasados, na obsolescência
        
        
          de competências no mercado de trabalho e na exigência de outras, no surgimento de novas ameaças aos direitos dos
        
        
          cidadãos, como a violação da privacidade, e na emergência de novos deveres.
        
        
          Nesta vertigem, a incapacidade de a todos levar no mesmo barco tem criado condições para a emergência de líderes
        
        
          populistas de cariz nacionalista que arrebanham os que se sentem excluídos. As conquistas da democracia ocidental
        
        
          parecem, de súbito, reversíveis. Neste caldo, as instituições responsáveis por zelar pelo Estado de direito assumem um
        
        
          papel de ainda maior relevância. A Justiça e os seus diferentes agentes são os guardiões finais das liberdades e direitos.
        
        
          Os advogados e as suas sociedades têm, naturalmente, aqui uma função central.
        
        
          Temos uma Justiça independente, mas urge resolver aquilo que a enfraquece: a extrema morosidade e um acesso que
        
        
          está longe de ser equitativo. É preciso que a Justiça consiga levar todos no mesmo barco.
        
        
          Não confundindo o seu papel com o da política, os juristas são uma peça-chave para ajudar a sociedade a navegar
        
        
          através dos dilemas éticos colocados pela transformação digital e por tecnologias como a inteligência artificial, con-
        
        
          tribuindo para a sua correta regulação e utilização. Ou ainda para a ajudar a lidar com ameaças como os ciberataques.
        
        
          A estes fatores soma-se um mundo politicamente mais incerto. A irrupção do protecionismo, ou a instabilidade geo-
        
        
          política, de que o Brexit é o exemplo mais próximo, criam uma enorme incerteza jurídica.
        
        
          Num mundo em acelerada mudança – política, tecnológica e social – precisamos do Direito e dos seus intérpretes
        
        
          como um porto seguro. É grande e pesada a responsabilidade, mas sempre o foi. A diferença é que agora exige um
        
        
          esforço de atualização e adaptação muito maior. Portugal precisa – e muito – desse esforço.
        
        
          editorial
        
        
          ANDRÉ VERÍSSIMO
        
        
          Diretor do Jornal de
        
        
          Negócios
        
        
          joão moura
        
        
          Diretor da In-Lex